Com certeza você evita o uso do "haver" em seus textos por medo de errar, certo? Por isso, compartilho com você uma reportagem de Josué Machado, publicada na revista Língua Portuguesa, na qual ele justificativa o problema do emprego desse verbo.
No final, há uma tabela com algumas dicas de como empregar sem erro o temido HAVER. Imprima e complemente seu material de estudo.
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O verbo que engana
Até redatores experientes podem escorregar no verbo "haver", quando usado como impessoal
Por Josué Machado
Na análise dos lances de espionagem internacional dos EUA, um experiente comentarista político se distraiu e escreveu no jornal:
"Assuntos importantes podem haver, mas não assuntos graves para negociações de Dilma e Obama."
Sim: "Assuntos importantes podem haver..."
Ele personalizou o verbo "haver". Ocorre que, em casos como esse, "haver" é necessariamente impessoal. E, quando funciona como impessoal, não tem sujeito, não concorda com nada. Sendo bom redator, por que terá se confundido? Por certo se enganou com o objeto direto plural "assuntos importantes", anteposto ao verbo, provavelmente por considerá-lo sujeito. Uma espécie de contaminação sintática. A ordem direta da oração seria:
"Pode haver assuntos importantes, mas não assuntos...".
Sem o auxiliar, ele não se enganaria e jamais escreveria "hão assuntos importantes...". Escreveria, sim:
"Assuntos importantes há, mas não assuntos graves para negociações de Dilma e Obama."
Manuel Said Ali (Gramática Histórica da Língua Portuguesa, Melhoramentos, 1964: 305) lembra que contribuiu para o uso singular do verbo a repugnância lusa pela forma "hão" como verbo nocional (portugueses não toleravam dizer "hão assuntos"). Por isso, prevaleceu o presente do indicativo ("há assuntos"). Por analogia ou inércia, caberia o singular nas demais formas do verbo.
A razão semântica, no entanto, costuma ter mais força que antigos usos. Desde Reflexões sobre a Vaidade dos Homens (1752), de Matias Aires (1705-1763), pipocam no Brasil orações existenciais com "haver" plural ("De quantos nomes, que nunca houverão?"). A forma plural se alternaria ao singular já na fala lusa do século 18.
(Revista Língua Portuguesa, ed. Segmento, n. 98, dez/2013, p. 26-27)
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